quarta-feira, 25 de setembro de 2019

ALUNOS DO CAMPUS SÃO ROQUE PARTICIPAM DE ENCONTRO DE VIVEIRISTAS DA EMBRAPA UVA E VINHO


Por Taninos e Afins

Alunos do IFSP campus São Roque com Daniel Grohs (ao centro, de barba), coordenador do curso

           
Uma boa produção de uva começa com mudas de qualidade. Foi pensando nisso que, há cerca de sete anos, a Embrapa Uva e Vinho, cuja sede fica em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, desenvolveu treinamento para capacitar viveiristas de videira. Nos últimos dias 24 e 25 de setembro, a empresa de pesquisa na área agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), realizou a 3ª Edição do Encontro para Capacitação de Viveiristas de Videira. Seis graduandos do curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia (TVE) do Instituto Federal de São Paulo, campus São Roque (IFSP São Roque), participaram da iniciativa.
            Misturando aulas práticas e teóricas, que abordaram temas diversos como fisiologia vegetal, propagação, substratos, entomologia, doenças do tronco, entre outros, o terceiro encontro teve mais inscritos que vagas ofertadas, uma prova de que o tema tem ganhado relevância no mercado nacional. Entre os palestrantes, estiveram pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, uma referência no setor, além de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Instituto Federal de Bento. O curso atraiu público de todo o Brasil, desde Rondônia, Tocantins, Petrolina, Goiás, São Paulo, Brasília, entre outros.
O encontro de viveiristas foi realizado em Bento Gonçalves
            “O curso superou nossas expectativas. Esta é a terceira edição. Em geral, realizamos a cada dois anos e a previsão era de que fizéssemos em 2020, mas tivemos que adiantar”, disse o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e coordenador do curso, Daniel Santos Grohs.
            Diante da procura, a cota de 50 pessoas por edição foi superada e, na versão deste ano, abriu-se uma exceção, permitindo a presença de cerca de 70 pessoas. Segundo Grohs, isso se deve ao fato de que a vitivinicultura está extrapolando as fronteiras do Rio Grande do Sul, atualmente o maior produtor do país.
            “Estamos vendo que há demanda para cima (regiões centrais do país) e, ao final, precisamos sentar e pensar em como faremos a sustentabilidade do negócio”, disse.
            Com o crescimento do mercado de uva, vinho e derivados para outras regiões do país, a Embrapa Uva e Vinho trabalha com a expectativa de uma demanda cada vez mais crescente e intermitente de mudas de uva e, se nada for feito até lá, poderá haver um déficit no mercado. Hoje, os viveiristas não dão conta de atender a essa demanda imediatamente, sendo que trabalham com pedidos antecipados em até um ano.    
            Grosso modo, o programa da Embrapa Uva e Vinho funciona da seguinte maneira: o viveirista cadastrado recebe mudas com qualidade sanitária contra os principais vírus da videira (é garantida a limpeza de seis grupos virais). Os viveiristas credenciados podem replicá-las e vendê-las no mercado, desde que paguem 5% de royalties sobre as mudas comercializadas à Embrapa. Há, no entanto, um limite de seis replicações sobre mudas in vitro, enquanto não há limite para as demais. Periodicamente, a Embrapa acompanha a sanidade das plantas básicas adquiridas.
            Atualmente, há 12 viveiristas licenciados, sendo sete somente no Rio Grande do Sul e os demais em Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Santa Catarina. Só os do Rio Grande comercializam 2,5 milhões e os de Petrolina, quatro milhões, pois estes últimos conseguem obter mais efetividade na replicação das mudas devido às características edafoclimáticas da região.
           
Evento incluiu atividades teóricas e de campo
Contudo, não é tão simples tornar-se um viveirista licenciado da Embrapa. O princípio de tudo, segundo Grohs, é já ter alguma experiência como viveirista, a fim de que se tenha afinidade com os conceitos básicos do setor, como saber o que é um porta-enxerto, um enxerto, uma copa.
            Tendo-se a experiência, o primeiro passo é inscrever-se no Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas) e, obtendo-se ele, pode-se procurar a Embrapa Uva e Vinho.

Graduandos de TVE

            Seis alunos do curso de Viticultura e Enologia participaram do curso (aliás, os únicos participantes de institutos federais. A exceção foi um bolsista da Embrapa do IF de Bento, que esteve no primeiro dia) e todos tiveram impressões muito positivas da iniciativa, especialmente por terem tido a oportunidade de ter contato com o mundo real das mudas de videira.
            A aluna do segundo semestre, a biomédica Gabriela Hirschfeld-Campolongo, classificou o treinamento como “bastante interessante, pois houve muito fundamento técnico-científico eu não tinha expectativa de que seria tão profundamente científico".
            Para ela, esse aspecto foi uma boa surpresa, além do contato com pessoas de diversas regiões, que não somente o Sul ou Petrolina, o que mostra que há uma dispersão de interessados no cultivo de mudas de videira.
            “A Embrapa Uva e Vinho tem uma estrutura bem equipada e isso dá a possibilidade de expandir a pesquisa, o que, infelizmente, não temos a possibilidade de fazer no IFSP”, salientou.
Replicação de mudas in vitro da Embrapa Uva e Vinho
            A aluna do quarto período Isabella Magalhães apontou que o curso complementou bastante as aulas de Fisiologia Vegetal e Fitopatologia, ministradas pelo professor Flávio Trevisan, além de ter-lhe dado uma noção de como é ser um viveirista. “Aqui a gente convive com viveiristas e, por isso, consegue ter uma visão do que é prático na verdade, do que funciona e dos valores envolvidos, e isso é muito importante para a gente.”
            O engenheiro agrônomo, vitivinicultor e aluno do sexto período André Sano acredita que o que se viu no curso é o que realmente é aplicado no mercado. “Normalmente na universidade a gente não consegue chegar a um padrão de como se faz as coisas e aqui nós temos contato com esse padrão, que é o padrão Embrapa de qualidade e, a partir desse contato, vemos se vale a pena ser um viveirista ou não”, pontuou.
            Na mesma linha de raciocínio, o aluno do quarto período João Góes também apontou que o treinamento da Embrapa mostra o padrão de produção da empresa, bem como as noções das exigências da legislação. “As primeiras palestras foram um complemento das aulas do Flávio, mas a parte prática é bem diferente. Aqui tivemos a noção prática do negócio”, salientou.
            O também aluno do quarto período Fernando Barbosa Santos disse que algumas das palestras corresponderam a um aprofundamento do que se viu em sala de aula no IFSP. “O curso acrescentou bastante, especialmente a parte prática, que deu um plus sobre outras maneiras de se fazer enxertia.”
           
Pesquisador ensina a fazer enxertia verde
Já para a aluna do sexto e último período do curso de TVE Adriana Cardoso, houve certa facilidade em acompanhar as palestras, especialmente as que envolveram propagação, fitopatologia, entomologia e substrato, pois muito do que foi falado fora abordado especialmente nas disciplinas ministradas pelos professores Flávio Trevisan e Leonardo Pretto.
            “Obviamente há limitações no curso do IFSP e creio que seja esse mesmo o papel da academia: ela dá ao aluno as ferramentas de que ele necessita, incitando-lhe a curiosidade para que busque fora do campus novas informações. O mundo real é mesmo muito diferente do mundo acadêmico.”
            Além disso, o curso, para ela, foi surpreendente no sentido de não só conhecer sobre o cultivo de mudas, mas de perceber que o universo da uva e do vinho ainda é bastante incipiente no Brasil. “A quantidade de interessados nos mostrou que há muita gente apostando nesse setor e em regiões as quais sequer imaginávamos, o que é muito bom para nós, estudantes de viticultura e enologia”, pontuou.     
Câmara de pegamento de enxertia



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