Estágio: passo importante na formação do enólogo
Graduandos de TVE dividem suas experiências em estágios e afirmam: contato com o ‘mundo real’ é surpreendente e fundamental para se ter uma visão clara da profissão
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A aluna Isabella Magalhães durante estágio na Guaspari |
Durante a
formação, um tecnólogo em viticultura e enologia aprende a percorrer todo o
caminho da bebida, que vai do campo ao copo. Contudo, a realidade de uma
instituição de ensino, ainda que tente, representa apenas uma ínfima fração do
que de fato acontece no mundo real. Por essa razão, o estágio torna-se
primordial na vida do estudante. É nessa etapa que ele toma conhecimento dos
desafios climatológicos, da concorrência, contato e uso de maquinário de ponta, da produção em larga escala. Ainda, estagiando
ele pode definir a área de atuação que mais lhe apetece nesse segmento, como o
campo, a cantina, o enoturismo, a comercialização, o laboratório ou o serviço
de sommelier.
“Para mim, o
estágio tem sido muito importante por me dar uma vivência que o IF (Instituto
Federal) não pode me dar, como o contato com a poda, a colheita, o crescimento
da planta, os defensivos agrícolas usados e as doenças da videira”, explicou
Luísa Tannure, aluna do sexto período do curso de TVE (Tecnologia em
Viticultura e Enologia) do campus São Roque do IFSP (Instituto Federal de São
Paulo).
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Luísa: estagiária da Casa da Árvore |
Ex-bolsista
do laboratório de vinificação do instituto, ela diz que na vinícola, além do
contato com o vinhedo, o que o campus do IFSP não dispõe (possui uma estufa e
as aulas práticas normalmente ocorrem em vinhedos de vinícolas parceiras da
região), pode vivenciar uma escala de produção maior de vinho e, principalmente,
de suco de uva.
“Posso dizer
que, no laboratório do IF, aprendi tudo sobre vinho, embora a produção fosse
numa escala menor. A experiência lá também me deu confiança no estágio. O suco
de uva, no entanto, foi uma novidade para mim”, disse a aluna, que, na
graduação, só teve contato com a produção de suco no quinto período, na disciplina
de Derivados da Uva e do Vinho (DUV).
Outra
novidade para Luísa no estágio foi o contato com o enoturismo. “O lado turístico
de São Roque, especialmente a Rota do Vinho, é muito importante, uma vez que o
enoturismo tem sido essencial para os negócios das vinícolas”, ressaltou.
Chandon
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Antonio (à esq.) e Lucas na Chandon |
Ao contrário
de Luísa, no estágio eles não tiveram contato com a parte de viticultura, pois
a vindima já havia ocorrido, e ficaram basicamente na cantina. E afirmam que
aprenderam muito.
“No instituto
nós temos uma produção mais ‘caseira’, em pequena escala. É bem diferente numa
indústria grande”, disse Lucas.
“No estágio
na cantina, ficamos na estação de tratamento de mosto, operando equipamentos
que tínhamos visto em sala de aula, mas que não tivemos contato. O
estágio foi ótimo para vermos na prática o que vemos na teoria, pois vemos
bastante coisa, mas não temos ideia de como funcionam, como maquinário, bomba”,
complementou Antonio.
Falando em
aprendizado, Antonio frisou que em momento algum sentiu-se inseguro no estágio.
Ele e Lucas, inclusive, elogiaram a base teórica aprendida no instituto, o que lhes deu suporte
durante o período na Chandon. “Eu sabia exatamente o que estava fazendo”, afirmou
Antonio.
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Antonio: vendo a teoria na prática |
Ambos afirmaram ter sido muito bem recebidos na empresa e teceram muitos elogios ao
enólogo responsável da Chandon, Juliano Perin. “Ele é muito experiente,
fez várias safras pelo mundo. Passei a admirar ainda mais esse profissional por causa dele”, enfatizou Lucas.
“O Juliano
nos orientou bastante. Nós passávamos todos os dias nos tanques para verificar se havia algum desvio metabólico da fermentação, para identificarmos
algum possível problema. Ele fez uma sessão de análise sensorial com a gente
para vermos cada vinho que era produzido lá e como se modificava no decorrer do
tempo para fazer os cortes. Isso foi muito bacana”, explicou Antonio.
Após o
estágio, a visão de Lucas sobre o mercado de trabalho mudou completamente. “Quebrei
o estereótipo da vinícola com teia de aranha. Impressionou-me a limpeza da
Chandon. Além disso, a região lá é muito parecida com São Roque e, por isso, vi
que há muito potencial aqui ainda não explorado”, disse.
A percepção
sobre a profissão também mudou para os dois. “Comecei a faculdade achando que
tínhamos pouca oportunidade de emprego, mas vi que há muitas, pois ainda há
pouca mão de obra especializada nesse setor”, pontuou Lucas. “Vi que gosto
muito de vinícola e o estágio foi essencial para eu querer continuar na área”,
completou Antonio.
Guaspari
Nas férias de julho do ano passado, Isabella Magalhães, aluna do quinto período de TVE, conseguiu um estágio numa das mais premiadas vinícolas do Brasil, a Guaspari, no interior de São Paulo.
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Isabella quer trabalhar no enoturismo |
Aos fins de
semana, a graduanda estagiou no enoturismo e disse que foi justamente esta a área que mais a agradou. “O enoturismo foi a parte que mais me encantou!
Antes do estágio, achava que era chata e monótona, mas vi que é muito legal
trabalhar com as pessoas, com a imagem do vinho, ver como vendem o
produto”, contou.
A exemplo
dos demais entrevistados, a experiência prática agregou muito para ela no aprendizado
teórico, dando-lhe uma visão mais ampla do mercado. “Fiquei muito mais empolgada
com o curso, tanto que quero me especializar ainda mais na área, fazendo mestrado.”
Oportunidade
Você deve
estar se perguntando como os alunos conseguiram essas vagas, não é mesmo? Lucas
e Antonio foram selecionados ao estágio na Chandon por intermédio do próprio
instituto, que foi contatado pela empresa.
Como
estagiou no laboratório de vinificação do IF, Luísa ficou sabendo que a Casa da
Árvore buscava um estagiário e foi atrás. Isabella, por sua vez, foi convidada a
fazer uma entrevista na Guaspari por meio de um conhecido, que a indicou.
“O mais
importante é que o aluno não fique esperando a oportunidade aparecer –
simplesmente vá atrás! Ele deve acreditar em si. Se conseguir conciliar o
estágio com a faculdade, é ótimo!”, aconselha Luísa.
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